Tudo que tenho relatado aqui, são informações que tive, nessa época não estava presente.
De todos os personagens aqui citados, não conhecí pessoalmente dois deles: Antonio e Dirce.
Os três mais velhos, em suas respectivas casas, não tiveram muita "sorte".
Contam que sofreram toda sorte de maus tratos, apanharam, e um deles exibe ainda hoje nas costas, uma grande cicatriz, que segundo ele foi queimado com uma panela de pressão.
Isto posto, em alguns meses, se juntaram. Como eram maiores, combinaram e fugiram, rumo ao encontro da mãe, no interior.
Viajaram de trem, pedindo, esmolando, e até revirando latas de lixo para comerem.
Mas chegaram, para alegria deles e alento para o coração de Rosa, que abraçada à um vestido da pequena Dirce, chorava.
Este vestido ela guardou pela vida toda. Agora já faz algum tempo que não a vejo, mas até a última vez que nos vimos, ela me disse que ainda guardava.
Bom, ficara prá trás, Wilson e Dirce que eram menores. Wilson estava com pouco mais de três anos, e Dirce, pouquinho mais de um ano.
O casal que ficou com Wilson, tinham idade já avançada, e nenhum filho.
Trataram dele, alimentaram, e principalmente, o amaram muito. Não o adotaram legalmente, mas nada lhe faltou.
O pai, quando vinha à S Paulo, para tratamento, o visitava, e era sempre bem recebido pelo casal. Em nenhum momento, eles esconderam dele a sua história. Pelo contrário, escreviam à família, e dava notícias.
Ele foi crescendo, e com a distância dos seus, e a vida um pouco melhor que tinha agora, foi tornando-se um estranho aos outros.
Anos se passaram, sem que eles se encontrassem.
Mais ou menos nove ou dez anos depois, o pai morreu.
Dirce, essa, segundo soubemos, a família que a adotou, ignorou sua identidade, e a registrou novamente como filha do casal, não sabemos se esta informação procede.
Só sabemos que quando a procuraram, a família que a adotara, tinha viajado para o exterior e levado a menina.
O que sabemos com certeza, é que nunca mais ela foi vista.
Wilson, alguns anos depois voltou a reencontrar a família, sentia que não tinha aquela afinidade própria de família, mas era sua família, e sentia uma confusão de distância e amor.
Dirce hoje tem entre 48 e 49 anos.
Rosa está viva, com a saúde bastante vulnerável, mas viva. Durante muitos anos ela dizia que Deus não permitiria que ela morrese, sem antes beijar novamente a sua filhinha, afinal todos tinham voltado para o seu aconchego.
Hoje já duvido um pouco disso.
Toninho o segundo filho morreu há mais ou menos cinco anos, com um câncer.
Os demais estão vivos, todos avós, e levando suas vidas, mas com muita revolta. A mágoa que eles têm da tia, que já deve ter falecido também, e do pai, é uma coisa indescritível, porém sabidamente não podemos julgá-los.
Só eles sabem a dor e o sofrimento que a vida lhes proporcionou, digo a vida, porém sabendo que pessoas foram instrumentos desse episódio.
Apenas a história que eu queria contar acaba aqui, porque muitas alegrias podem ainda estar por vir, assim como talvez dor e sofrimento também.
A vida é assim, estamos aqui hoje, sem saber nada do nosso amanhã.
UP DATE: Queridos amigos, muitos de voces, já entenderam, o porquê, da minha história. No início, eu disse, que a história, era real e envolvia pessoas muito queridas. Pois é, é a vida do Valter meu marido, que na verdade é o personagem Wilson.
Como ele próprio respondeu alguns dos comentários, e não fez questão nenhuma de manter-se no anonimato, estou explicando.
6 comentários:
Bom, nada do que está aqui é mentira. Talvez falte alguma precisão de datas e números mas isso não é relevante. O relevante para mim é que minha história foi contada em forma de estória. Triste? não, eu diria simplesmente que é a vida.
Ps: ver minha história contada dessa forma e com os nomes trocados é meio estranho.
Ass:Wilson
Ana, que historia triste... espero que esses filhos, que hoje são adultos, tenham momentos de felicidade nessa vida. Sim, pq o que temos são momentos bons, ninguem é feliz o tempo inteiro.
Olha... estive no blog que vc recomendou, do teu marido, e vi um post sobre o teu signo..rs Muito engraçado, gostei.
Um beijo e bom fim de semana pra ti!
A vida não é fácil para os pobres, que têm tendência a terem muitos filhos, tudo fica mais complicado: dar alimentos, alojamento, educação, vestir, estudos.
Depois, se a saúde falta, pior ainda.
Este relato da vida de uma família “destruída”, mexe com o coração da gente. Maldizemos do pai e da tia dos meninos, foram demasiados cruéis para Rosa e seus meninos, pelo facto de os separar, penso que não foi a melhor solução.
A vida ensina-nos muito quando nos deparamos com situações problemáticas e carenciadas de coisas simples, como por exemplo ter um bocado de pão para comer, um livro de história para ler, um sorriso de criança…
Aninha… muito beijinhos para vocês e bom fim-de-semana
Tá tudo bem sim amiga , é só a falta de tempo.
Obrigada pelo carinho.
Lamento pela história tão triste do teu querido.
Mas é a vida, em compensação ele te encontrou, e isso com certeza não tem preço.
Um grande beijo
Ana,
Antes de mais, os sinceros parabéns pelo novo look do teu blog! Peço também desculpa porque há algum tempo não passava por cá como queria!
Uma historia algo triste mas ao mesmo tempo, dá-nos uma lição de vida!
Grande dupla! Você e o Walter!
Uma boa semana para vocês!
Bjks da Matilde e Cª!
Minha admiraçao e simpatia para o Valter(oops Wilson), que conseguio passar por tudo isso com a cabeça no lugar.
bjos,
me
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